Proposta para exposição
CARDUME – Ariel Spadari
Durante uma residência artística realizada no Vale do Ribeira, em janeiro de 2016, tive a oportunidade de entrar em contato com moradores locais e conhecer um pouco de suas atividades, dentre elas a pesca com rede. Durante alguns dias participei de algumas sessões dessa prática, onde o peixe chamado manjuba representa 90% dos animais capturados. Pude observar que enquanto outras espécies se debatiam nas mãos dos pescadores as manjubas já estavam totalmente imóveis, todas mortas ainda na rede.
Um dos pescadores me disse que era normal: “manjuba bateu, perdeu uma escama, morreu!”
A partir dessa experiência proponho uma instalação/objeto denominada: CARDUME. Um objeto de vidro, similar a um aquário medindo 150 x 120 x 20 cm, totalmente lacrado com bordas/cantoneiras metálicas.
Este recipiente possuirá 300 litros e será preenchido por um líquido (formulação especial desenvolvida pelo artista) para conservação dos objetos colocados em seu interior.
Dentro do recipiente uma rede de pesca esticada preencherá toda a área do vidro e presos nesta rede estarão diversos peixes da espécie popularmente conhecida como manjuba (Anchoviella lepidentostole).
O líquido presente no vidro conserva os peixes impedindo sua decomposição. Técnica de conservação similar a utilizada por museus de história natural e laboratórios de pesquisa, fazendo com que a obra não necessite de manutenção esporádica.
Os peixes apresentados passaram por uma técnica denominada diafanização, que consiste em deixar carnes e musculaturas do animal transparente e realçar seu esqueleto com corantes específicos. Esse método torna a parte interna do animal visível e destacada para observação de sua anatomia interna (imagens em anexo).
Os animais são adquiridos em peixarias e não necessitam de nenhuma autorização previa para seu uso, pois são comercializados como alimento.
Este projeto dá continuidade às pesquisas em andamento, onde o aprendizado e deslocamento de práticas das ciências biológicas se mesclam a experiências e experimentos vividos. Aqui a técnica de diafanização desenvolvida perpetua o instante dos animais capturados na rede.